O que é síndrome de Cushing? Saiba tudo sobre essa disfunção causada pelo excesso de cortisol
Hipercortisolismo, Cushing, conhece algum desses nomes difíceis? Não? Mas talvez você saiba o que é cortisol, o tal do “hormônio do estresse”. Ficou curioso? Então continue lendo para saber o que é síndrome de Cushing e qual a sua relação com esse difamado hormônio!
A síndrome de Cushing faz parte do rol de doenças raras, definido pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
De acordo com a OMS, “as doenças raras são definidas pelo número reduzido de pessoas afetadas: 65 indivíduos a cada 100.000 pessoas”.
Essa síndrome acomete aproximadamente 50 mil pessoas por ano, tendo uma estimativa de 12 casos para cada 1 milhão de pessoas.
Apesar de rara, essa é uma condição que pode levar a graves complicações de saúde, podendo até mesmo ser fatal, se não for devidamente diagnosticada e tratada.
Continue lendo para saber tudo sobre a síndrome de Cushing e se você corre risco de desenvolvê-la!
O que é síndrome de Cushing?
A síndrome de Cushing, às vezes chamada de hipercortisolismo, é um distúrbio que ocorre quando o corpo produz muito hormônio cortisol, por um longo período de tempo. Mas, o que isso quer dizer?
O cortisol é considerado o “hormônio do estresse”, porque é ele quem ativa as nossas defesas quando passamos por alguma situação estressante, como quando corremos perigo, por exemplo.
As glândulas responsáveis pela produção de cortisol são as suprarrenais, que ficam logo acima dos rins.
O cortisol também ajuda a regular como o nosso corpo transforma as proteínas, carboidratos e gorduras dos alimentos em energia.
Além disso, esse hormônio ajuda a:
- manter a pressão sanguínea regulada
- regular os níveis de glicose (açúcar) no sangue
- reduzir a inflamação do corpo
Saiba mais sobre o cortisol e sua importância no vídeo abaixo:
Mas, afinal, o que é síndrome de Cushing? Como foi citado no início do artigo, essa síndrome acontece quando os níveis de cortisol de uma pessoa ficam anormalmente altos, de maneira persistente.
Isso pode acontecer por vários motivos. Pode ter causas externas, como o uso de certos medicamentos corticóides e também pode acontecer por mecanismos do próprio corpo, que produz muito cortisol por conta própria.
“Ok, e o que acontece com quem tem essa síndrome?”, é o que você deve estar se perguntando agora.
Os sinais mais característicos da síndrome de Cushing é uma protuberância gordurosa entre os ombros, um rosto arredondado e estrias rosadas ou roxas na pele.
Porém, o excesso prolongado de cortisol no organismo também pode resultar em uma série de complicações para a saúde de quem porta essa síndrome.
Sem tratamento, a síndrome de Cushing pode causar problemas como:
- Ataque cardíaco e derrame
- Coágulos sanguíneos nas pernas e pulmões
- Infecções frequentes ou incomuns
- Perda óssea (osteoporose) e fraturas
- Perda de massa muscular e força
- Pressão alta (hipertensão)
- Níveis de colesterol não saudáveis
- Depressão ou outras alterações de humor
- Perda de memória ou dificuldade de concentração
- Resistência à insulina e pré-diabetes
- Diabetes tipo 2
Embora a síndrome de Cushing possa geralmente ser curada, ela pode ser fatal se não for tratada devidamente.
Os tratamentos podem retornar ao normal a produção de cortisol e melhorar sensivelmente os sintomas. Quanto mais cedo o tratamento começar, maiores serão suas chances de recuperação.
Continue lendo para entender ainda melhor o que é síndrome de Cushing. Nos próximos tópicos você vai conhecer com detalhes suas:
- sintomas,
- causas,
- tratamento
- e diagnóstico.
Quais os sintomas (e sinais) da síndrome de cushing?
Os sinais e sintomas da síndrome de Cushing podem variar de acordo com os níveis de excesso de cortisol, idade e gênero.
Sintomas comuns da síndrome de Cushing
- Ganho de peso e depósitos de gordura, principalmente ao redor da barriga, parte superior das costas, na face e entre os ombros
- Estrias rosa ou roxas na barriga, coxas, seios e braços
- Pele fina e frágil que machuca facilmente
- Cura lenta de cortes, picadas de insetos e infecções
- Acne
Mulheres com síndrome de Cushing
A síndrome de Cushing é mais prevalente em mulheres, dos 20 aos 50 anos de idade. Elas são, em média, três vezes mais propensas a desenvolvê-la do que homens.
Mulheres com síndrome de Cushing geralmente apresentam os seguintes sintomas:
- Pelos faciais e corporais mais espessos ou mais visíveis (hirsutismo)
- Períodos menstruais irregulares ou ausentes
Homens com síndrome de Cushing
- Disfunção erétil
- Perda de interesse sexual
- Fertilidade diminuída
Crianças com síndrome de Cushing
As crianças também podem ter a síndrome de Cushing, embora seja menos comum do que em adultos.
De acordo com um estudo de 2019, apenas cerca de 10% de novos casos de síndrome de Cushing a cada ano ocorrem em crianças.
Crianças com síndrome de Cushing podem apresentar:
- Obesidade
- Taxa de crescimento mais lenta
- Pressão alta (hipertensão)
Outros sinais da síndrome de Cushing
Além dos sintomas citados acima, os portadores da síndrome de Cushing ainda podem apresentar:
- Fadiga grave
- Fraqueza muscular
- Depressão, ansiedade e irritabilidade
- Mudanças de humor
- Dificuldades cognitivas
- Pressão alta (hipertensão)
- Dor de cabeça
- Aumento da pigmentação da pele
- Perda óssea, levando a fraturas ao longo do tempo
- Açúcar alto no sangue
- Aumento da sede
- Aumento da micção
- Aumento da incidência de infecções
Se você tiver sintomas que sugiram síndrome de Cushing, entre em contato com seu médico.
Especialmente se estiver tomando medicação com corticosteroide para tratar uma condição como asma, artrite ou doença inflamatória intestinal.
O vídeo abaixo mostra o relato de uma mulher portadora, sobre os sintomas da síndrome de Cushing:
Quais são os tipos e as causas da síndrome de cushing?
Existem dois tipos de síndrome de Cushing, dependendo do que causa essa condição, que são os seguintes:
Síndrome de Cushing exógena
Quando a síndrome de Cushing é causada por algum agente fora do corpo ela é chamada de exógena.
A causa mais comum da síndrome de Cushing exógena é o uso de medicamentos corticosteroides em altas doses, por um longo período.
Alguns exemplos desses remédios são:
- Prednisona
- Dexametasona
- Metilprednisolona
Geralmente, esse tipo de medicação é prescrita para:
- Tratar doenças inflamatórias, como o lúpus e artrite reumatoide
- Evitar a rejeição de um órgão transplantado
- Para tratamento dor nas articulações, bursite e dor nas costas (altas doses de esteróides injetáveis)
Também conhecidos como glicocorticoides, estes medicamentos são semelhantes ao cortisol, tendo o mesmo efeito no organismo.
Como as doses utilizadas para tratar essas condições geralmente são mais altas que a quantidade diária de cortisol necessária ao organismo, podem ocorrer efeitos colaterais pelo excesso desse hormônio.
Doses mais baixas de esteroides na forma de inalantes, como os usados para asma, ou cremes, como os prescritos para eczema, geralmente têm menos probabilidade de causar a síndrome.
Entretanto, em alguns indivíduos, esses medicamentos também podem causar Cushing, especialmente se tomados em altas doses.
Conheça mais informações sobre as indicações e os perigos dos medicamentos corticoides no vídeo abaixo:
Síndrome de Cushing endógena
A síndrome de Cushing endógena é rara e ocorre quando a causa vem de dentro do corpo, quando algum fator interno desregula a produção hormonal.
Isso acontece quando as glândulas suprarrenais produzem muito cortisol ou devido ao excesso de produção do hormônio adrenocorticotrópico (ACTH), que regula a produção de cortisol.
Seu corpo pode produzir altos níveis de cortisol por várias razões, incluindo:
- altos níveis de estresse
- treino esportivo
- desnutrição
- alcoolismo
- depressão, distúrbios de pânico etc
Mas as causas mais comuns da síndrome de Cushing endógena são as seguintes:
Tumores
Vários tipos de tumores também podem levar a uma maior produção de cortisol. Alguns destes incluem:
- Tumores da hipófise
- A hipófise libera muito hormônio adrenocorticotrópico (ACTH), que estimula a produção de cortisol nas glândulas suprarrenais (doença de Cushing).
- Tumores ectópicos
- Estes são tumores fora da hipófise que produzem ACTH. Eles geralmente ocorrem no pulmão, pâncreas, tireoide ou timo.
Doença de Cushing
De acordo com a Associação Americana de Cirurgiões Neurológicos (AANS), 70% dos casos de síndrome de Cushing endógena ocorrem devido à doença de Cushing.
Ela é causada pelo excesso de produção de ACTH na hipófise, que por sua vez se torna cortisol. Essa é uma condição rara e geralmente ocorre devido a um adenoma da hipófise (tumor não cancerígeno).
Em alguns casos, esses tumores se formam devido a certas alterações ou síndromes genéticas. Porém, na maioria das vezes, não está claro por que isso acontece.
Anormalidades na glândula suprarrenal
Em algumas pessoas, a causa da síndrome de Cushing é a secreção excessiva de cortisol que não depende da estimulação do ACTH e está associada a distúrbios das glândulas suprarrenais.
Uma anormalidade ou um tumor na glândula adrenal (suprarrenal) pode levar a padrões irregulares de produção de cortisol.
O mais comum desses distúrbios é um tumor não canceroso do córtex adrenal, chamado adenoma adrenal.
Os tumores cancerígenos do córtex adrenal (carcinomas adrenocorticais) são raros, mas também podem causar a síndrome de Cushing.
Conheça mais detalhes sobre as causas da síndrome de Cushing no vídeo abaixo:
Como é o diagnóstico da síndrome de Cushing?
A síndrome de Cushing pode ser particularmente difícil de diagnosticar. Isso ocorre porque muitos dos sintomas, como ganho de peso ou fadiga, podem ter outras causas.
Além disso, a própria síndrome pode ter muitas causas diferentes, como foi explicado no tópico anterior.
Porém, se depois de ler o artigo até aqui, você acredita que possa ter desenvolvido essa condição, a primeira coisa a ser feita é procurar um médico.
Na consulta, o profissional de saúde vai procurar saber sobre seu histórico de saúde e vai fazer perguntas sobre os sintomas que você apresenta e sobre medicamentos que esteja utilizando.
Além disso, o médico vai realizar um exame físico em você, procurando por sinais como corcova de búfalo, estrias e machucados.
Em seguida, alguns exames laboratoriais podem ser solicitados para confirmar o diagnóstico, incluindo:
Teste de cortisol na urina 24 horas
Para este teste, você será solicitado a coletar sua urina por 24 horas, para analisar os níveis de cortisol que aparecem durante esse período.
Medição de cortisol salivar
Como em pessoas sem síndrome de Cushing os níveis de cortisol caem no final do dia, este teste utiliza uma amostra de saliva coletada a noite para verificar se o nível desse hormônio continua alto mesmo durante esse período.
Teste de supressão de baixa dose de dexametasona
Para este teste, você vai receber uma dose de dexametasona no final da noite e seu sangue vai ser testado quanto aos níveis de cortisol pela manhã.
Normalmente, a dexametasona faz com que os níveis de cortisol caiam. Se você tem síndrome de Cushing, isso não vai ocorrer.
Como diagnosticar a causa da síndrome de Cushing?
Após o médico constatar que você tem síndrome de Cushing, ele vai realizar uma investigação para saber qual a causa, ou seja, o que está por trás do excesso de produção de cortisol.
Os testes para ajudar a determinar a causa podem incluir:
Teste do hormônio adrenocorticotrófico (ACTH) no sangue
Baixos níveis de ACTH e altos níveis de cortisol podem indicar a presença de um tumor nas glândulas supra-renais.
Teste de estimulação do hormônio liberador de corticotropina (CRH)
Neste teste, é administrada uma injeção de CRH. Isso aumentará os níveis de ACTH e cortisol em pessoas com tumores da hipófise.
Teste de supressão de altas doses de dexametasona
É o mesmo que o teste de baixas doses, exceto que uma dose maior de dexametasona é usada. Se os níveis de cortisol caírem, você pode ter um tumor na hipófise. Se não, você pode ter um tumor ectópico.
Amostragem do seio petroso
Uma injeção de CRH é aplicada e uma amostra de sangue é coletada de uma veia próxima à hipófise e também de uma veia distante da mesma.
Altos níveis de ACTH no sangue perto da hipófise podem indicar um tumor na glândula, enquanto níveis semelhantes de ambas as amostras indicam um tumor ectópico.
Exames de imagem
Podem incluir exames como tomografia computadorizada e ressonância magnética. Eles são usados para visualizar as glândulas suprarrenais e hipofisárias para procurar tumores.
Confira no vídeo o depoimento de uma mulher portadora de Cushing, sobre como ela foi diagnosticada com a síndrome:
Síndrome de Cushing tem cura? Quais os tratamento da síndrome de Cushing?
O tratamento visa encontrar a fonte do excesso de cortisol e reduzir seus níveis.
O tipo de tratamento dependerá de vários fatores, incluindo a causa da síndrome.
Se os testes mostrarem que a pessoa tem a doença de Cushing, ela pode precisar se submeter a uma cirurgia para remover o tumor da hipófise.
Se uma pessoa tiver os sintomas de Cushing porque está usando corticosteroides para tratar uma condição de saúde, o médico pode reduzir a dose do medicamento ou substituí-lo por um medicamento não corticosteroide.
Os indivíduos nunca devem baixar suas dosagens de corticosteróides sem supervisão médica. Isso pode levar a níveis perigosamente baixos de cortisol e possivelmente a complicações com risco de vida.
O seu médico também pode prescrever um medicamento para ajudar a gerenciar os níveis de cortisol. Os remédios atualmente utilizados para o tratamento da síndrome de Cushing incluem:
- cetoconazol (Nizoral)
- mitotano (lisodren)
- metirona (metopirona)
- pasireotide (Signifor)
- mifepristona (Koryn, Mifeprex) em indivíduos com diabetes tipo 2 ou intolerância à glicose
Alguns medicamentos diminuem a produção de cortisol nas glândulas adrenais ou diminuem a produção de ACTH na hipófise. Outros medicamentos bloqueiam o efeito do cortisol nos seus tecidos.
Um cirurgião pode precisar remover a glândula adrenal se nenhum outro tratamento funcionar.
Veja o relato de uma paciente após o tratamento do Cushing:
Síndrome de Cushing: tratamento nutricional, exercício físico e qualidade de vida ajudam a gerenciar essa condição
Como parte do seu plano geral de tratamento da síndrome de Cushing, existem algumas mudanças de estilo de vida que você pode incorporar para ajudá-lo a viver bem.
Abaixo estão algumas dicas que você pode integrar ao seu plano de recuperação da síndrome de Cushing.
Porém, sempre converse com seu médico antes de fazer alterações importantes, como começar a se exercitar regularmente.
Coma de forma inteligente
Coma alimentos nutritivos: frutas e legumes ricos em antioxidantes, grãos integrais, proteínas magras e gorduras saudáveis.
Obtenha cálcio e vitamina D suficientes em sua dieta. Esses nutrientes ajudam a fortalecer os ossos (a perda óssea é comum em pessoas com síndrome de Cushing).
Um nutricionista pode ajudá-lo a criar um plano de refeições equilibrado.
Para mais dicas sobre como se alimentar melhor, leia:
O que é alimentação não saudável
Exercite-se suavemente
O exercício desempenha um papel significativo em qualquer estilo de vida saudável, mas é importante não exagerar e começar com calma.
Você pode tentar exercícios de baixo impacto, como hidroginástica, tai chi ou yoga, que reconstroem suavemente seus músculos e articulações.
Você também pode trabalhar com um personal trainer, para criar um plano de treino ideal para você.
O exercício deve ser confortável. Se sentir dor ou novos sintomas ao se exercitar, converse com seu médico imediatamente.
Leia também: 7 benefícios da atividade física para a saúde
Cuide de sua saúde mental
Se você não cuidar de sua saúde mental, isso pode prejudicar o gerenciamento da síndrome, já que isso também pode interferir nos níveis de cortisol e piorar os sintomas.
Também é muito comum que pacientes com síndrome de Cushing sofram com depressão. Se você se sentir triste ou não quiser fazer as coisas que costumava fazer, converse com seu médico.
Ele pode recomendar um psicólogo que pode ajudá-lo a lidar com seus sentimentos durante a recuperação. Você também pode manter um diário para registrar como se sente no dia a dia.
Faça uma pausa. Não seja duro consigo mesmo. É importante descansar bastante, relaxar e dormir.
Mime-se com uma massagem suave, um banho de espuma quente ou ouça música suave. Agora não é hora de se esforçar, respeite seu corpo e seus limites.
Leia também: 18 dicas de como ter saúde mental
Agora que você já sabe o que é síndrome de Cushing, pode perceber que essa é uma condição grave, não é mesmo?
Sem tratamento adequado, essa síndrome pode gerar complicações que podem afetar seriamente a qualidade de vida do indivíduo portador e que podem ser fatais.
No entanto, se uma pessoa tiver um diagnóstico adequado em tempo útil, o tratamento pode permitir que ela retorne a uma vida mais saudável.
Se você acha que tem sintomas de Cushing, procure seu médico o mais rápido possível e realize os testes por ele solicitados.
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